Abraço promove formações e rastreios nos Açores
A associação Abraço vai promover formações e rastreios nos Açores, em 2018 e 2019, num plano que pretende sensibilizar profissionais de saúde e população em geral e aumentar o conhecimento sobre a incidência de VIH e hepatite C.
“O nosso principal objetivo é sensibilizar as pessoas para a necessidade de fazer o rastreio, porque muitas vezes as pessoas acham que não pertencem a grupos de risco e por isso não têm de fazer o rastreio”, adiantou, em declarações à agência Lusa, o presidente da associação, Gonçalo Lobo.
Outro dos objetivos da Abraço é “sensibilizar os profissionais de saúde para terem uma linguagem menos culpabilizadora e menos julgativa”, para que “as pessoas possam ter um diálogo aberto e franco com eles e também agilizar o mais rápido possível as consultas”.
Esta será a primeira iniciativa da Abraço nos Açores, onde a associação ainda não tem sede, e conta com um apoio de 10 mil euros por parte do executivo açoriano.
Na origem deste plano está a elevada incidência de alguns fatores de risco de transmissão destas doenças nos Açores, como o número de pessoas que utilizam drogas injetáveis.
“Sabemos que a percentagem de ocorrência de casos [entre pessoas que utilizam drogas injetáveis] é muito superior e que devido à desestruturação que estão a ter nesse momento da sua vida não estão tão sensibilizados para a importância da sua saúde”, salientou Gonçalo Lobo.
De acordo com o relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) de 2016, a Região Autónoma dos Açores era uma das que apresentavam as mais elevadas prevalências de consumo recente e atual de qualquer droga na população entre os 15 e os 74 anos.
O projeto vai arrancar com seis formações dirigidas a profissionais de saúde e a profissionais de ciências sociais e humanas e educação, nas ilhas de São Miguel e Terceira, que poderão abranger cerca de uma centena de pessoas.
Paralelamente, vão ser promovidos cerca de 500 rastreios ao VIH, através do projeto “Teste em Casa”, que “permite o conhecimento do estatuto serológico sem necessidade do contacto cara-a-cara”.
“O envelope não está identificado, a pessoa recebe o kit para fazer o rastreio em casa e sabe automaticamente qual é o seu resultado. A partir daí pedimos à pessoa para nos disponibilizar o resultado e depois podemos ajudar na ligação aos cuidados de saúde, a ter a consulta médica, a fazer as análises e a entrar em tratamento”, explicou o presidente da Abraço.
Segundo Gonçalo Lobo, este novo projeto “vai mitigar a questão da vergonha, da culpa, do medo de as pessoas virem a saber”.
Citando dados da Secretaria Regional da Saúde, a Abraço adianta que desde 2015 foram pedidas 523 autorizações para tratamento da hepatite C nos Açores, numa média de 150 pedidos por ano.
Já no que diz respeito ao VIH, a região notificou 13 novos casos de infeção por VIH, em 2016, tendo sido diagnosticados 18 casos de VIH e três de SIDA, em 2011 e 2012, de acordo com o Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde, três casos de SIDA.
Ainda assim, a Abraço alerta para o facto de muitos doentes serem acompanhados em Portugal continental, não sendo, por isso, possível quantificar o número real de casos de infeção por VIH.
A declaração de Paris, de 2014, estabelece como objetivos da ONUSIDA para 2020 que 90% das pessoas que vivem com infeção pelo VIH conheçam o seu estatuto serológico, que destas 90% estejam em tratamento e que destas 90% tenham carga vírica suprimida.
Fonte: Diário de Notícias